Ok, muitos físicos ou estudantes de física sempre contam a mesma piada sobre o fazendeiro que tinha um cavalo doente e que, depois de contatar vários especialistas que não resolveram o problema do cavalo, decidiu chamar um físico para analisar a doença. O físico então faz suas anotações sobre o cavalo e vai embora, dizendo voltar quando tiver resolvido o problema. Após três meses, o físico retorna a fazenda. O fazendeiro, animado por saber que o físico havia resolvido o problema, fica logo decepcionado após o físico dizer: Eu encontrei a resposta para o problema com o seu cavalo, porém só é válida para um cavalo esférico e se movendo sem atrito.
Particularmente, depois de muito tempo ainda acho a piada muito engraçada! rs
Mas isso é o que muitos físicos na realidade fazem: Simplificar ao máximo o problema para conseguir uma solução o mais simples possível. Na piada acima, por exemplo, e em muitos problemas de física que caem em vestibular, a resistência do ar é desprezada, devido a dois fatores. O primeiro é que quando temos o ar, temos um problema de fluídos, ou seja, temos um objeto se descolando por um dado fluído, e este tipo de problema é muito complicado matematicamente de ser resolvido. O outro fator é a comparação do problema resolvido com e sem a resistência do ar: o resultado é muito, mas muito parecido, em condições climáticas normais claro, o que torna então a opção sem o ar muito mais atraente do ponto de vista de entender os conceitos físicos por trás do fenômeno.
Vamos tentar entender melhor o segundo fator. Adicionando a resistência do ar ao problema não irá nos trazer ganho nenhum em termos de conceitos físicos, apenas muitas dificuldades matemáticas que os físicos tentam sempre evitar. Além disso, o resultado será aproximadamente o mesmo. Pois bem, existe um princípio lógico denominado Navalha de Occan (Ockham), e é muito utilizado em diversas áreas de conhecimento, em particular aqui, na física. O princípio da navalha de Occan diz que:
"A explicação de qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias para a explicação do mesmo e descartar toda e qualquer premissa que não vá alterar o resultado aparente do fenômeno observado."
Como nota histórica, o termo navalha de Occan é atribuído a Guilherme de Ockhan (1288 -- 1348), frade inglês e filósofo.
Na piada acima, a premissa desnecessária é levar em conta a resistência do ar. Embora pareça meio ingênuo, a navalha de Occan pode levar à simplificação de muitos problemas complicados em física. Vejamos um outro exemplo: Um objeto em formato qualquer em queda livre de uma altura h e pede-se o tempo de queda deste objeto. Quais são as premissas neste caso: O fato do corpo cair, devido a gravidade; a resistência devido ao ar, a geometria do corpo, a altura da queda livre, e mais outras, que não me lembro agora. Mas quais são as informações que devemos realmente levar em conta para resolver o problema? Bom, a geometria e a resistência do ar só irão complicar nossa vida, e então podemos considerá-las desnecessárias para ter uma noção do que irá acontecer neste fenômeno. Basta tomarmos então a gravidade e a altura, e teremos uma equação ou um conjunto de equações muito simples para calcular o tempo. Depois que temos a solução mais simples possível, podemos adicionar elementos tais que tornem nosso problema mais real. Este caminho é muito mais fácil matematicamente do que começar a resolver o problema com todas as informações possíveis.
É claro, a aplicação da navalha de Occan vai muito além do que isso na física e muito além em outras áreas, mas o que quis passar aqui foi apenas sua utilidade fundamental, ou seja, reduzir um problema muito complicado a uma forma muito mais simples do ponto de vista matemático.
Vamos considerar um caso real: O sistema Sol, Terra, e Lua, e queremos entender o movimento e calcular as equações de movimento da Terra orbitando o Sol. Quais as informações realmente necessárias e quais aquelas que podem ser eliminadas usando a Navalha de Occan?
Abraços!
J. F.
O que eu li sobre a "navalha de occan" é que ela é uma ferramenta filosófica usada para dividir um problema complexos em vários problemas mais simples e assim, resolvendo estes um a um, chegamos a solução do problema mais complexo.
ResponderExcluirJá no exemplo que você deu, a dita piada que particularmente não achei graça, eu já diria que é mais um exemplo de abstração, que é prática muito comum entre os físicos.
E abstração é um outra espécie de "ferramenta filosófica", ligada a outro filósofo, que não lembro o nome agora, mas deve ser um nome tão simples quanto o de Ockhan, rsrs.
Enfim, seus textos são muito bons e seu blog esta de parabéns, espero ter feito uma crítica construtiva aqui. Um abraço.
Muito obrigado pelo comentário que, sem dúvidas, foi muito construtivo, Alex!
ExcluirÉ bacana ver que pessoas como você se interessam e dão contribuições aos meus textos. Obrigado pela correção, irei procurar o nome do filósofo e assim que achar posto aqui.
Abraços!!
eu não entendi a piada, poderia explicar?
ResponderExcluirOlá.
ExcluirNa verdade a piada se refere ao fato de que na física, procuramos sempre considerar modelos ideias que, obviamente, sempre fogem da realidade. Abraços.