No
texto anterior mostramos brevemente os principais motivos que levaram ao
desenvolvimento da teoria da relatividade especial (TRE) e seus dois postulados
em que toda teoria se baseia. Vale lembrar que o segundo postulado, que afirma
que a luz tem a mesma velocidade independente da velocidade da fonte, exclui a
possibilidade de um espaço em repouso absoluto. Neste texto vamos nos focar no
principal efeito da relatividade especial apresentado no filme Interestelar e apresentar as motivações
para o desenvolvimento da teoria da relatividade geral (TRG).
Um
efeito relativístico que está presente durante todo o filme é diferença na
passagem do tempo para os astronautas e para as pessoas que ficaram na Terra.
Para entendermos este efeito, que é chamado Dilatação
do tempo, vamos considerar dois referenciais inerciais, R e R’, e assumir
que R’ está se afastando de R com uma velocidade muito grande, próxima à
velocidade da luz, c. No filme, R é a Terra e R’ a nave espacial, mas poderia
ser quaisquer outros dois objetos. O que a teoria da relatividade especial diz
a respeito deste problema físico? A teoria afirma que o intervalo de tempo em
R’ para a realização de um evento será menor do que quando medido por um
observador em R. Antes de levarmos esta afirmação para o filme Interestelar, vamos entender o fenômeno
do ponto de vista da teoria.
Vamos supor que temos um marcador de tempo em R' que funcione como na figura abaixo, ou seja, temos um emissor/receptor de luz e um espelho.
Emitimos um feixe de luz, este reflete no espelho e volta ao receptor. A duração deste evento será nossa unidade de tempo, em analogia ao segundo, que usamos normalmente nos relógios. O intervalo de tempo para a realização deste evento será denotada por
Emitimos um feixe de luz, este reflete no espelho e volta ao receptor. A duração deste evento será nossa unidade de tempo, em analogia ao segundo, que usamos normalmente nos relógios. O intervalo de tempo para a realização deste evento será denotada por
e, usando a definição de velocidade média, temos
que
sendo D distância entre o emissor e o espelho e c a velocidade da luz. Assumimos também que R’
está se afastando de R com uma velocidade u. Por
outro lado, se analisarmos o mesmo evento, a emissão, reflexão e recepção do
feixe de luz, a partir do referencial R, iremos ter outra impressão dos fatos,
ou seja, iremos ver algo como representado na a seguir.
Neste caso o emissor
está em movimento em relação ao observador, com velocidade u, e o tempo medido entre a
emissão e recepção da luz, medido em R, será chamado de
Sem
entrar em detalhes matemáticos, os dois intervalos de tempo podem ser
relacionados aplicando o teorema de Pitágoras à última figulra, e temos:
Notamos que quando R’ está parado em relação a
R, ou seja u = 0, temos que
Por outro
lado, se u = 0.9c, por exemplo, teremos que
Deste
modo o observador em R medirá um intervalo de tempo maior do que o medido pelo
observador em R’, concluindo assim que o relógio em R’ é mais lento. O fato
quer multiplica o intervalo de tempo no referencial R' é chamado fator
de Lorentz e é obtido formalmente no desenvolvimento da teoria. Aqui usamos
apenas uma ilustração para chegar no mesmo fator.
Como
dito, este é um fenômeno que acompanha todo o filme. A nave espacial viaja a
uma velocidade muito grande, com propulsores especiais, e a viagem leva um
longo período de tempo, o que contribui para que a diferença entre os tempos
medidos na nave e na Terra seja ainda maior. O experimento realizado no filme
não é a emissão de um feixe de luz, mas sim o tempo biológico das pessoas, e as
reações que levam ao envelhecimento das células.
Portanto, Cooper envelhece muito mais
lentamente do que Murph, sua filha, pois ele está na nave espacial movendo-se
muito rápido e durante um longo período de tempo.
A
dilatação do tempo é um efeito já comprovado experimentalmente, e não há
dúvidas quanto a sua existência (o artigo indicado na bibliografia mostra muito
claramente isso; recomendo aos interessados). O filme explora bem este efeito,
talvez exagerando um pouco sua intensidade.
A
motivação para o desenvolvimento da teoria da relatividade geral foi levar em
conta efeitos relativísticos em sistemas não inerciais, ou seja, sistemas com
velocidades variáveis em relação a outros sistemas, além do fato de levar em
conta a existência de campos gravitacionais. Vamos introduzir estas ideias e
mostrar algumas de suas consequências apresentadas em Interestelar no próximo texto.
Bibliografia:
Teoria da Relatividade
Especial, R. Gazzinelli, Ed. Blucher – 2009.
Demonstração
experimental da dilatação do tempo e da contração do espaço dos múons da
radiação cósmica. Revista Brasileira de Ensino de Física
(RBEF), v. 29, n. 4, pag. 585-591. Endereço online:
http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/061005.pdf
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